11 de julho de 2013

Intervenção psicológica no luto em oncologia                      
A palavra luto deriva do latim “luctus”, que significa “dor, pesar, aflição”. Apesar de ser na sua maioria das vezes associada apenas à reação perante a morte de um ente querido, o luto engloba também outro tipo de perdas, como separações familiares, o fim de uma relação amorosa ou a perda do estatuto de pessoa saudável devido ao diagnóstico de uma doença grave.
Perante o diagnóstico de cancro, o doente entra habitualmente num processo de luto pela perda da sua funcionalidade e autonomia, dos seus sonhos e esperanças e de um futuro com os seus entes queridos (Rando, 1986). Quando a doença progride até ao momento em que não existe a possibilidade de cura, o doente oncológico e os seus familiares enfrentam também um luto antecipatório, que diz respeito ao total de reações cognitivas, afetivas, sociais e culturais a uma morte esperada (Knott & Wild, 1986; Rando, 2000). Aqui, o doente terá que se adaptar a uma série de mudanças emocionais, sociais, espirituais, físicas, cognitivas e comportamentais, designadamente, reconhecer e adaptar-se às múltiplas perdas, pensar constantemente sobre o passado, desvincular-se da família e amigos e passar por períodos de tristeza, choro ou ansiedade (Periyakoil & Hallenbeck, 2002). Por sua vez, a família deverá partilhar entre si conhecimentos sobre a realidade de uma morte próxima e a experiência da dor do luto (Rosen, 1990). Além disso, a família fará nesta altura uma reorganização do sistema familiar e os seus objetivos serão também redirecionados.
O luto é vivenciado pelas pessoas de diferentes formas, na sua expressão e duração. Contudo, a literatura sobre o tema sugere que a maioria dos indivíduos demora entre um a dois anos a recuperar do processo de luto – considera-se que este processo foi bem resolvido quando a pessoa enlutada consegue falar no ente querido sem sentir dor, reajustar-se a um ambiente do qual o falecido já não faz parte e estabelecer novos vínculos com outras pessoas (Parkes, 1971; Stroebe, Stroebe & Domittner, 1988; Worden, 2003). Além disso, no período de um ano o indivíduo enlutado passa por todas as festividades e acontecimentos significativos na família (ex. aniversários, Natal, Páscoa, entre outros), pelo que habitualmente a pessoa não recupera o seu funcionamento habitual num período de tempo inferior a este.
Em suma, as reações ao luto são muito diversas e a maioria das pessoas não regressa à normalidade num período inferior a 12 meses. Além disso, e principalmente na doença oncológica, o processo de luto inicia-se muitas vezes antes da morte efetiva, pelo que as pessoas necessitam de tempo e espaço para se adaptarem a uma nova realidade. Aqui, os profissionais de saúde têm um papel preponderante, ao avaliarem a necessidade de um acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico ao doente e/ou aos seus familiares.

Por Susana Carvalho
Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela  Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Estagiária Profissional na Unidade de Psico-Oncologia da Liga Portuguesa Contra o Cancro  - Núcleo Regional do Norte.

Referências:
Knott, J., & Wild, E. (1986). Anticipatory grief and reinvestment. In T. Rando (ed.), Loss and Anticipatory Grief (pp. 55-60). New York: Lexington Books.
Parkes, C. (1971). The first year of bereavement. A longitudinal study of the reaction of London widows to the death of their husbands. Psychiatry, 33, 444–67.
Periyakoil, V., & Hallenbeck, J. (2002). Identifying and managing preparatory grief and depression at the end of life. American Family Physician, 65, 883–890, 897–898.
Rando, T. (1986). A comprehensive analysis of anticipatory grief: perspectives, processes, promises, and problems. In T. Rando (ed.), Loss and Anticipatory Grief (pp. 3-37). Massachusetts: Lexington Books.
Rando, T. (2000). Anticipatory mourning: what it is and why we need to study it. In T. Rando (ed.), Clinical Dimensions of Anticipatory Mourning: Theory and Practice in Working with the Dying, their Loved Ones, and their Caregivers (pp. 17-50). USA: Research Press.
Rosen, E. (1990). Families Facing Death: Family Dynamics of Terminal Illness. Massachusetts: Lexington Books.
Stroebe, W., Stroebe, M., Domittner, G. (1988). Individual and situational differences in recovery from bereavement: a risk group identified. Journal of Social Issues, 44, 143–58.
Worden, J. (2003). Grief counseling and grief therapy: a handbook for the mental health practitioner. New York: Brunner- Routledge.